Uma coisa chamada Literatura

Discussion in 'Portuguese' started by Ayesha, Mar 7, 2005.

  1. Ayesha

    Ayesha Member

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    Então, já que temos uma thread que correu tão bem em relação à música... Podemos fazer o mesmo com a tal da Literatura...
    Livros que vos marcaram? Porquê?
     
  2. migle

    migle Senior Member

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    teacher, teacher... hehehe
    bien, libros que nos marcaran... mmmmmmmm
    "Rayuela" de Julio Cortázar
    es increíble cómo es capaz de poner en palabras la tremenda lucha interior de sus personajes, no sabría describirlo, es sencillamente impresionante.
    "100 años de soledad" de García Márquez, esta no hace falta ni explicarlo, quien la lea o la haya leído lo entenderá.
    "El lobo estepario" de Herman Hesse, otra lucha interior, profundizando en el interior del dualismo humano, y una rallada mental de las que a mí me encantan.
    Hace poco leí por primera vez a José Saramago, leí "La balsa de piedra" y me gustó mucho también, tengo que leer más de Saramago, tiene una forma de escribir muy peculiar.
    "El Señor de los Anillos" por supuesto, la gran obra maestra de la literatura fantástica.
    Y de momento, creo que no pondré más, pero hay muchos más, yo es que soy muy impresionable :D

    Y los tuyos profe? porque tú no has puesto ninguno.
     
  3. Ayesha

    Ayesha Member

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    " Antes de o levarem para o paredão, o Padre Nicanor tentou assisti-lo. "Não tenho nada do que me arrepender", disse Arcadio, e pôs-se às ordens do pelotão depois de tomar uma chávena de café simples. O chefe do pelotão, especialista em execuções sumárias, tinha um nome que era muito mais do que uma coincidência: capitão Roque Carnicero. A caminho do cemitério, sob a chuva miúda e persistente, Arcadio viu despertar no horizonte uma quarta-feira radiosa. A nostalgia desvanecia-se com a bruma e deixava no seu lugar uma imensa curiosidade. Só quando lhe ordenaram que se voltasse de costas para o muro é que Arcadio viu Rebeca de cabelo molhado e um vestido de flores cor-de-rosa, a abrir a casa de par em par. Fez um esforço para que não o reconhecesse. De facto, Rebeca olhou por acaso para o muro e ficou paralisada de espanto, mal podendo reagir para fazer um aceno de adeus a Arcadio. Este respondeu-lhe da mesma maneira. Nesse instante, apontaram-lhe as bocas fumadas das espingardas e ouviu letra a letra as encíclicas cantadas de Melquíades e sentiu os passos perdidos de Santa Sofía de la Piedad, virgem, na sala de aulas e teve no nariz a mesma dureza de gelo que lhe chamara a atenção nas fossas nasais do cadáver de Remedios. "Ah, carago!", chegou a pensar, "esqueci-me de dizer que se nascesse mulher lhe chamassem Remedios." Então, como numa pontada pungente, voltou a sentir todo o terror que o atormentou toda a vida. O capitão deu a ordem de fogo. Arcadio mal teve tempo de endireitar o peito e levantar a cabeça, sem compreender donde fluía o líquido ardente que lhe queimava as pernas.
    - Cabrões! - gritou. - Viva o Partido Liberal! "

    Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez
     
  4. migle

    migle Senior Member

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    Foder, que pena que no lo puedas leer en español, tienes que intentarlo algún día, es precioso, a mí me da mucha rabia pensar que debido a malas traducciones hay buenos libros que pueden no gustarte por esa razón, ojalá todo el mundo supiese hablar todos los idiomas y pudiéramos verlo, escucharlo y leerlo todo en su idioma original. Que putada, la vida es cruel.
    Ah!!!! he tenido una idea... jejejejejeje :D
     
  5. amarylia

    amarylia Member

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    Também sinto isso migle o_O) Pois, talvez seja por isso que gostei de autores brasileiros (?) Mas dos que mais me tocaram: Coração Solitário Caçador de Carson McCullers, e inevitavelmente As Mil e Uma Noites por allah :D por Antoine Galland, porque é uma malha de intrigas fabulosa, um senso comum e talvez porque ilustra todo um mundo de viagens nas quais eu adorava participar...
     
  6. Ayesha

    Ayesha Member

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    "Eu hei-de estar sempre na sombra aqui e em toda a parte. Onde quer que ponhas os teus olhos. Onde quer que haja um motim, para que as pessoas possam ter que comer, eu lá estarei. Onde quer que haja um bófia disposto a espancar um tipo, eu lá estarei [...]. E quando os nossos tiverem à sua mesa aquilo que semearam e colheram, quando viverem nas casas por eles mesmos construídas... pois bem!, eu lá estarei."

    As vinhas da Ira, John Steinbeck

    ~~*~~ ~~*~~ ~~*~~

    Migle, não gostáste da tradução? Eu nunca li o original, em espanhol, mas nesta tradução tudo me soa tão bem, as descrições, as reflexões, as narrações, sei lá, está tudo tão maravilhoso... Besoooossssss
     
  7. migle

    migle Senior Member

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    Nao, nao e isso, acho que no me expliqué bien, yo, obviamente, también leo todas las traducciones de los libros, no los suelo leer en su idioma original, y también me gustan, pero yo lo que decía es que siempre, algo pierdes, y es un pena, por ejemplo en la literatura hispanoamericana de autores argentinos, colombianos, chilenos, etc, están llenos de expresiones de su tierra, que a veces ni incluso alguien de españa comprende, porque cambian palabras, y hay expresiones de ellos que nosotros no usamos, por eso digo que cuando eso se traduce a otro idioma es muy difícil que captes todo lo que significa, pero eso no hace que una novela deje de ser buena, aunque también es verdad que me he encontrado libros traducidos del inglés en los que hacen verdaderas barbaridades y te pierdes cosas. C'est la vie, nao é?
     
  8. Ayesha

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    C'est vrai cherri!
     
  9. migle

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    ein? eu nao sei nada de francés, hehehe, solo poucas coisas :? :D
     
  10. Ayesha

    Ayesha Member

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    "Sem pronunciar palavra, José aproximou-se e afastou devagar o lençol que a cobria. Ela desviou os olhos, soergueu um pouco a parte inferior da túnica, mas só acabou de puxá-la para cima, à altura do ventre, quando ele já se vinha debruçando e procedia do mesmo modo com a sua própria túnica, e Maria, entretanto, abria as pernas, ou as tinha aberto durante o sonho e desta maneira as deixara ficar, fosse por inusitada indolência matinal ou pressentimento de mulher casada que conhece os seus deveres. Deus, que está em toda a parte, estava ali, mas, sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver como a pele de um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela, criadas uma e outra para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se encontraria quando a semente sagrada de José se derramou no sagrado interior de Maria , sagrados ambos por serem a fonte e a taça de vida, em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as tivesse criado."

    Evangelho segundo Jesus Cristo , José Saramago
     
  11. migle

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    ahora mi pregunta es: en qué idioma escribe originalmente, en portugues, no? Lo que me gusta de los libros en español de Saramago es que las traducciones las hace su mujer que es española, ves? de esas traducciones si me fío :)
    Tengo el libro del Evangelio según Jesucristo, pero lo tengo a la espera, me lo leeré en breve.
     
  12. Ayesha

    Ayesha Member

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    "Uma vez por outra, Blimunda levanta-se mais cedo, antes de comer o pão de todas as manhãs, e, deslizando ao longo da parede para evitar pôr os olhos em Baltasar, afasta o pano e vai inspeccionar a obra feita, descobrir a fraqueza escondida do entrançado, a bolha de ar no interior do ferro, e, acabada a vistoria, fica enfim a mastigar o alimento, pouco a pouco se tornando tão cega como a outra gente que só pode ver o que à vista está. Quando fez isto pela primeira vez e Baltasar depois disse ao padre Bartolomeu Lourenço, Este ferro não serve, tem uma racha por dentro, Como é que sabes, Foi Blimunda que viu, o padre virou-se para ela, sorriu, olhou um e outro, e declarou, Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras, e, assim, Blimunda que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o baptismo foi de padre, não alcunha de qualquer um. Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados, enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde estás, Sol aonde vais."

    Saramago, José, Memorial do Convento, Caminho, Lisboa, 2002 ​
     
  13. migle

    migle Senior Member

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    Entao que? Ja começaste a ler 100 años de soledad en castellano? hehehehe. Seguro que es muy duro ;)
     
  14. Ayesha

    Ayesha Member

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    Sim, por acaso já comecei! :) Não é nada dificil, acredita... É um deleite!!!
    E tu... Tu ainda hás-de ler algum do Saramago em português...
    Epah, que colosso... É lindo!
    ****************
     
  15. não me lembro

    não me lembro Member

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    Olá pessoal. Já n posto (este neologismo, o verbo postar, acho tão engraçado) há algum tempo. E tal. Sobre a literatura, não quero dizer mta coisa. Quer dizer, eu queria falar mta coisa, de mta literatura. Mas n me apetece. Quero, mas não quero (isto hoje n tá fácil, lol). Eu leio muito desde pequenino. Comecei no tio patinhas e na turma da mónica, depois veio os x-men, homem aranha, super homem e outros que tais. Depois subitamente, com uns 12 ou 13 anos, já andava a ler Bertrand Russell: "Porque não sou Cristão". Grande livro. Gosto de muita coisa desde Sartre, a Kafka, Steinbeck, passando por Paulo Coelho, Saramago, Garcia Marquez, Süskind.... Mas meu autor predilecto é, sem dúvida Milan Kundera.. Já li pra aí uns 8 ou 9 livros dele, e gosto de todos mesmo. Hoje acabei de ler "A vida não é aqui". Oh n sei k diga. É o mestre da metáfora, diria eu. Aliás, ele já escreveu horóscopo para uma revista sob pseudónimo. E horóscopo segundo ele, n se trata de adivinhar o futuro (os horóscopos repetem de dois em dois anos para aí), mas sim de propor temas para a vida por intermédio de metáforas. As pessoas, maravilhadas pela beleza metafórica com que sua vida se acaba de revestir, acabam elas próprias cumprindo a profecia do tema proposto. Kundera usa e abusa de coisas como, sei lá, pisar somente as linhas brancas da passadeira, dar um beijo à amante que n vê há 10 anos no mesmo sitio que o primeiro. É uma característica do ser humano, que em psicologia se define por pensamento mágico. As crianças são as que melhor demonstram este tipo de pensamento. E kundera faz disto o pão com que escreve. As personagens e as relações entre elas, são definidas por metáforas (dotando cada personagem de uma perspectiva única da vida, de si e dos outros) e é belo assistir a toda esta mecânica, que lhe permite chegar a acontecimentos verdadeirament bizarros, carregados de ironia e hilariantes, e em que por vezes, o mundo do simbólico toma o lugar do "real". E depois há que dizer que ele demonstra uma compreensão da natureza do ser humano, que.. é fantástico. Têm que ler. Há muito por onde escolher, mas eu cito aqui 4 obras dele: a insustentável leveza do ser (este é o mais conhecido), a valsa do adeus, livro dos amores risíveis, e.. sei lá,. a identidade.
     
  16. amarylia

    amarylia Member

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    Talvez a minha próxima leitura seja a insustentável leveza do ser, nca li nada desse autor, kundera.

    Italo Calvino <-- Leiam qualquer coisa dele. 'As cidades invisíveis' é o mais conhecido. Este homem escrevia como se estivesse a desenhar.

    http://www.emory.edu/EDUCATION/mfp/cal.html
     
  17. Ayesha

    Ayesha Member

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    " Era uma vez antigamente, mas muito antigamente, nas pronfundas do passado, quando os bichos falavam, os cachorros eram amarrados com lingüiça, alfaiates casavam com princesas e as crianças chegavam no bico das cegonhas. Hoje meninos e meninas já nascem sabendo tudo, aprendem no ventre materno, onde se fazem psicanalisar para escolher cada qual o complexo preferido, a angústia, a solidão, a violência. Aconteceu naquele então uma história de amor.

    (...) (...) (...) (...)

    Parêntesis Poético

    Soneto do Amor Impossível
    Para a minha adorada Andorinha Sinhá

    (A Andorinha Sinhá
    A Andorinha Sinhô
    A Andorinha bateu asas
    e voou.
    Vida triste a minha vida,
    não sei cantar nem voar;
    não tenho asas nem penas,
    não sei soneto escrever.
    Muito amo a Andorinha,
    com ela quero casar.
    Mas a Andorinha não quer,
    comigo casar não pode
    porque sou gato malhado,
    ai!)
    a) Gato Malhado

    (...) (...) (...) (...)"


    Amado, Jorge, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - uma história de amor, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1999
     
  18. Ayesha

    Ayesha Member

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    " O mundo só vai prestar
    Para nele se viver
    No dia em que a gente ver
    Um gato maltês casar
    Com uma alegra andorinha
    Saindo os dois a voar
    O noivo e a sua noivinha
    Dom Gato e Dona Andorinha."

    (Trova e filosofia de Estêvão da Escuna, poeta popular estabelecido no Mercado das Sete Portas, na Baía.)
     
  19. Ayesha

    Ayesha Member

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    " Don Giovanni - Quem és tu agora? Uma estátua que fala, ou um homem que se cala? Ainda crês na existência do Inferno? Dirás que sim, que à tua simples ordem saltaram do solo três labaredas para devorar-me, e eu digo-te que elas não foram mais do que uns mesquinhos fogos-fátuos, como se vêem à noite nos cemitérios. Que aqui não há nenhum cemitério? Como te enganas, estátua! A terra é toda ela um sepulcrário, é mais a gente que se encontra debaixo do chão que aquela que em cima dele ainda se agita , trabalha, come, dorme, fornica. Parece que os anos que viveste não te ensinaram muito, estátua. A morte dos malvados não é para o Inferno que se abre, mas para a impunidade. Ninguém poderá ferir-te nem ofender-te se já estás morto. Que eu tenha sido na vida um desses malvados? Como agora se costuma dizer, é uma questão de ponto de vista, seria para mim uma perda de tempo discutir com um comendador tão melindroso assunto. Se queres saber a minha opinião, o ser humano é livre para pecar, e a pena, quando a houver, aqui, ouves-me?, aqui na terra, não no inferno, só virá dar razão à sua liberdade. Nunca se pronunciaram palavras mais vãs do que quando se disse: "Deus te dará o castigo". Seria para chorar se não fosse para rir."

    Saramago, José, Don Giovanni ou O dissoluto absolvido, Caminho, Lisboa, 2005​
     
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